Balantiocheilus melanopterus (Bala Shark, Tubarão Bala, Tubarão Prateado)
Qui, 30 de Junho de 2005 21:00
O Tubarão Bala ou Prateado, cientificamente chamado Balantiocheilus melanopterus, é um dos peixes mais apreciados no mundo do aquarismo. Originário do sudoeste asiático, a espécie começou a chegar na Europa nos anos 50. Hoje em dia, está presente em vários aquários do mundo. Muitos criadores sentem grande afeição pelos “tubarões bala”, que terminaram por se tornar uma das opções mais importantes no comércio internacional de peixes ornamentais. Ciprinídeo de médio porte, precisa de muito espaço para nadar, chegando a atingir cerca de 35 cm em um grande tanque. Já em aquários caseiros, de pequeno volume, os Balas não crescerão tanto, atingindo no máximo 15 cm. Preferem viver em cardumes, e há relatos de que possuem vida longa, de 10 a 15 anos.Um aspecto difundido sobre a espécie tem desapontado muitos aquaristas: “ o Tubarão Prateado não se reproduz em cativeiro”. Esse “decreto” contraria muita gente, ainda mais quando não se fornece uma explicação clara para a questão. Assim, sempre que alguém desejar substituir um Bala Shark que morreu em casa, seja por doenças, má qualidade da água, ou porque saltou fora do tanque, é preciso ir à loja e comprar outro exemplar, já que não há uma produção própria para substituir a perda.Os atlas e guias de peixes de aquário são muito reservados acerca da procriação do Tubarão Bala, e a Internet também não é muito esclarecedora a esse respeito. O Guia do Aquário, de Brian Ward, edição em português (Estampa), resume-se a dizer que “Ainda não procria em cativeiro, e o sexo é difícil de determinar” (p.73). Em diversos sítios da Internet, lemos que os Bala Sharks são ciprinídeos que espalham ovos, sem qualquer cuidado posterior com a cria, mas quanto à sua reprodução: “é desconhecida até agora”, “não é possível em cativeiro”, “não ocorre em aquário”, que “não há relatos de procriação bem sucedida em cativeiro”, “seus hábitos reprodutivos não têm sido documentados” ou ainda que “raramente procria em cativeiro”. Ora, o que é raro não é impossível, mas infelizmente não são fornecidas notícias detalhadas sobre a questão. Outro sítio em inglês lança uma pista: “não se sabe de sua desova em aquários, mas tem sido procriado comercialmente em lagos de terra no sudoeste asiático”. O sítio Mongabay, que trata, também em inglês, de várias espécies de peixes de aquário, esclarece que nas fazendas de piscicultura na Ásia se utilizam hormônios para provocar a desova dos Bala Sharks em cativeiro.O americano John Robertson, muito interessado na procriação de Bala Sharks, relatou na Internet suas duas tentativas de provocar a desova dessa espécie em seu aquário caseiro de 150 cm de comprimento, entre 1999 e 2000. Esse artigo foi editado online em novembro de 2002: ele tinha quatro tubarões bala com mais de 25 cm cada, e vinha notando comportamentos estranhos, sobretudo de um par. Por intuição, definiu qual dos indivíduos era o macho e qual era a fêmea (o macho, mais esguio e agitado, agressivo; a fêmea, mais cheia e calma). Assim, ele pensou em estimular a desova dos seus peixes através da simulação, no aquário, do clima de Monções, fenômeno tipicamente asiático, quando as chuvas torrenciais inundam os campos: para isso, começou baixando o nível da água, depois subiu a temperatura e diminuiu a quantidade de alimento, indicando a época de seca na região asiática. Após alguns dias nesse sistema, que continuava com filtração e trocas parciais, ele simulou a época das enchentes e das chuvas, elevando o nível d´água, baixando a temperatura e aumentando a alimentação dos peixes. Colocou pedras e plantas no fundo e observou o comportamento do “casal”: segundo ele, o par apresentou uma postura típica de reprodução, com perseguições, enroscamento de corpos, danças coladas, etc, mas não houve desova. Veremos depois as possíveis falhas e limitações dessa experiência de Robertson. Segundo uma lenda, os Bala Sharks e outros peixes importados da Ásia sofreriam um processo de esterilização antes de deixarem seus países de origem. Tal notícia não possui base científica, além do que muitas espécies que nos chegam de lá reproduzem naturalmente. Minha experiência com Bala Sharks já tem três anos, quando comecei a criar cinco exemplares que comprei bem pequenos e hoje alcançaram mais de 20 cm cada. Vivem em um tanque de jardim, muito bem ambientado, juntamente com Barbos Tinfoil, Chalceus, Tetras, entre outros. Confesso que nunca desejei provocar a reprodução dessa espécie, apesar de ser ela bem vinda, caso venha a ocorrer. Mas já presenciei em meus tubarões muitas das atitudes descritas por Robertson em seu artigo. É importante notar que não há interesse dos criadores asiáticos em divulgar qualquer dado sobre a reprodução dessa espécie, seja em cativeiro, seja em seu habitat natural. O lucro comercial desse peixe é tão elevado que não seria vantajoso divulgar dados a respeito de sua procriação. Por sua extração desmedida da natureza e pela destruição ambiental em certas regiões da Ásia, a espécie corre o risco de ser extinta do habitat natural, limitando sua presença apenas a aquários e criatórios comerciais. A reprodução desse peixe em cativeiro, importante para a propagação da espécie, deve seguir as regras normais para qualquer peixe: condições muito próximas do natural que propiciem o amadurecimento sexual dos indivíduos para que se sintam estimulados ao processo reprodutivo. O Bala Shark, segundo dizem os especialistas, alcança a maturidade sexual quando atinge entre 15 e 17 cm de comprimento. É um ciprinídeo muito veloz, e muito provavelmente realiza migrações na época de se reproduzir, indo no sentido contrário das fortes correntezas dos rios, espalhando seus ovos próximos às nascentes, conforme fazem os nossos cruzeiros do sul, matrinchãs, jaraquis, dourados, entre outros, sobretudo no período das chuvas. Os alevinos se recolhem em locais mais calmos, como baías, enseadas ou lagos cujas águas se juntaram com as dos rios nas enchentes e depois de recuar, se isolaram. É assim que se explicaria a existência desses peixes em lagos de Sumatra e Bornéo, grandes ilhas que ainda apresentam a espécie em estado natural. Mas é difícil aceitar que eles procriem em águas paradas. Nas enchentes do ano seguinte, esses peixes represados voltam ao curso normal do rio e os maiores iniciam a migração para reproduzir. Essa é uma limitação que Robertson não pôde ultrapassar: como simular uma correnteza turbulenta e a migração em um aquário de 1,5m? Alguns peixes nadam centenas de quilômetros até a cabeceira dos rios, e esse caminho é essencial para a maturação hormonal das espécies. Outra questão: esse peixe desova sobre pedras, areia, ou entre plantas? Quais espécies de plantas? E de que se alimentam durante a desova? Qual a melhor água para desovar? São questões difíceis de responder. Um peixe de piracema precisa migrar até a nascente dos rios para procriar. Se ele viver confinado por muito tempo em águas paradas, como em aquários ou tanques, por exemplo, dificilmente irá desenvolver seu sistema endócrino satisfatoriamente, não chegando a gerar o amadurecimento dos óvulos, nas fêmeas, nem o desenvolvimento dos testículos, nos machos, impossibilitando a fecundação e a eclosão de ovos. É por isso que não há casos de reprodução de Bala Sharks em aquários ou tanques. Tenho certa desconfiança de que uma correnteza forte com muita espuma possa estimular a desova dessa espécie, e que o melhor substrato, nesse caso, deva ser de pedras e areia, em águas não muito profundas, até um metro. É isso o que muitas espécies brasileiras procuram na época das migrações de desova, inclusive realizando saltos contra a correnteza. É notável o formato dinâmico dos Balas: sua velocidade e capacidade de saltar devem ter algum sentido na natureza. Dificilmente um aquário satisfará tais condições. Acredito, no entanto, que se possa reproduzir Tubarões Bala artificialmente sem uso de hormônios, bastando simular uma ambientação próxima do natural, em um tanque bem longo, na forma de canal, pouco profundo, com correnteza forte, trechos espumantes, como em um riacho, com água circulante desaguando em um espaço mais profundo e amplo, com pedras no fundo, plantas, boa alimentação, época de chuvas, etc. Isso é muito custoso e difícil para um criador caseiro. Quanto a mim, não alimento esperanças de procriar Bala Sharks; prefiro admirar a beleza do seu nado elegante e agitado, em que resplandece seu típico prateado. Finalizando, a alimentação desses peixes deverá ser a mais variada possível, aceitam bem rações em flocos, mas alimentos vivos como artêmia, tubifex etc não devem faltar.
Fotografias: Katsuzo Koike e Alexandre Paixão
Nome científico:
Balantiocheilus melanopterus
Origem:
Tailândia, Bornéu e Sumatra
pH:
6,5 a 7,4
Temperatura:
25ºC
Dureza:
8 dH
Tamanho adulto:
35cm
Tamanho do aquário:
400L
Alimentação:
onívoro
Reprodução:
ovíparo
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